Fernando Silva: a saima e a antiga pesca das enguias

Neste artigo, vamos falar com Fernando Conceição Silva, um sineense nascido em outubro de 1960. Atualmente, é o proprietário de uma peixaria em Sines. Acostumado desde miúdo, a percorrer todos os pesqueiros marítimos e fluviais deste concelho, tem-se movimentado no setor piscatório, pelas mais diversas atividades: primeiro como aficionado da pesca, e, depois, como comprador de pescado. Já teve banca na praça, já vendeu para restaurantes e cantinas, já vendeu peixe congelado. Enfim, já calcorreou as lotas de Portugal, de norte a sul, a vender e comprar peixe.

Se nos quisermos elucidar sobre as características de determinado peixe, é só falar com Fernando Silva. Foi o que fizemos sobre a saima e a pesca das enguias.

E: Então, conhece a saima?

FS: Saima?… Não se chama… Aqui, em Sines, é que se chama saima! Isso é sargo-veado. O nome técnico desse peixe é sargo-veado. Aqui, em Sines, é que se chama saima.

E: Pois, é mesmo isso que nos interessa. É característico de Sines, o nome, então?

FS: É saima.

E/HM: Então, nas outras lotas, como é que se chama?

FS: Aqui, também já se chama… Aqui, em Sines, também… Em todas as lotas de pesca, os peixes têm todos o mesmo nome. Aqui… Agora, é vendido por sargo-veado.

E/HM: Ah, pois, há um nome padrão, que é para ser conhecido…

FS: É, em todas as lotas.

E: Está certo! E, ainda há muito peixe? Existe muito esse peixe ou não?

Susana Ferreira: Ontem, por acaso, apareceram uma série delas.

FS: Aparece. Aparece… Aparecem umas quantas, de vez em quando, aparecem umas quantas, mas não é muito peixe. Antigamente, havia. Hoje, aparecem? Sei cá?! Dez ou doze. Às vezes, há dias de dez, de doze, quinze; e, depois, pode haver, muitos dias, que não há nada, não há, não aparece.

E: E é caro, barato?

SF: É caro!

FS: Muito caro!

E: Características?

FS: Características, assim como?

E: A fisionomia, como é que é?

FS: Então, é… É listado, castanho. Com listas mais claras e listas mais escuras, castanho. É um sargo com listas.

E: Ah, é um sargo! Então, pois é caro, um sargo.

FS: Mas é castanho, acastanhado.

E: Como é que se apanha esse peixe, sabes?

FS: Eh pá, apanha-se nas redes, apanha-se no anzol, ao aparelho.

E: E utilizações gastronómicas?

FS: Grelhadinho! Grelhado. Massa de peixe. Cozido. É bom de qualquer maneira. No forno. É bom de qualquer maneira! É peixe que é bom de qualquer forma.

E: Obrigadinho pelos esclarecimentos!…

Seguidamente, Fernando Silva, mais conhecido pelo Roxo, descreve-nos como se processava, antigamente, a pesca das enguias ou eirós, na Ribeira dos Moinhos e no Lago.

FS: Ah, isso era uma coisa fantástica! Eu tinha os meus, 11, 12, 13 anos, e ia, por exemplo, para a Ribeira dos Moinhos, apanhar enguias… Ai! Vamos lá ver… Aquilo tinha… Eles davam-lhe dois nomes…

E: Como é que isso se preparava?

FS: Era uma linha comprida, com uma agulha, e apanhava-se minhocas, minhocas, na terra, não é? E, depois, ia-se enfiando pela agulha, pela linha. Dois metros. Um metro e meio ou dois metros. E, depois, enrolava-se aquilo. Enrolava-se essas minhocas, não é? Uma cana de valado pequena, com um, um metro e meio, para aí; uma seda; atava-se aquilo; e, depois, era pescar à enguia. Metia-se aquilo, por exemplo, na ribeira e sentia-se a enguia puxar. Ao puxar, puxava-se, para cima, ou caía dentro dum guarda-chuva aberto, que é para ela não… Não fugir. Não desaparecer! Se ela caísse, ali, nunca mais, a conseguias agarrar. Aquilo tinha muito garro, não é?

E: E, depois, o que é que faziam para tirar o garro? Ainda me lembro.

FS: Dependia. Para tirar o garro, dependia. Havia duas formas para tirar o garro. Ou a areia ou o sal, também.

E: Até se fazia, logo, lá.

FS: Metiam-se dentro de… Abria-se uma cova, não é? Metiam-se as enguias lá para dentro, e com umas botas, umas botas de borracha boa, vá, toca a esgarrar as enguias…

E: Tenho uma vaga ideia disso, ainda.

Isso era no Lago e na Ribeira dos Moinhos?

FS: Em toda a ribeira. Em toda a ribeira…

E: Até à Barbuda?

FS: Sim! Sim! Enquanto houvesse… Nas alturas, que houvesse água, não é? Por exemplo, antigamente, havia muita água: chovia muito, havia cheias, não é? E para apanhar as enguias, com essa técnica, a água tinha que ser barrenta. Mais barrenta, não é? Porquê? Porque a enguia com a água barrenta circulava mais.

Nota: manteve-se o registo de língua, com alguns regionalismos, do texto original (com adaptações).

Helder Mestre [antigo aluno da ESPAM]

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