Do giz ao rato: oportunidades e desafios

A penetração das novas tecnologias em esferas e setores-chave, como a educação, indústria e saúde, tem merecido e motivado reflexões e debates. Discutem-se, hoje, com redobrado afinco e mediatismo, virtualidades e riscos do uso de ferramentas digitais móveis em escolas.

Qualquer medida ou projeto suscita críticas e controvérsias, como as geradas pela proibição do uso de telemóveis em recinto escolar ou pelo projeto-piloto de desmaterialização progressiva de manuais no ensino básico. Enquanto uns repelem o ecrã, outros substituem o papel por tablets.

Perante a irreversibilidade da transição digital, sustê-la é coisa sisífica. Problematizá-la nem tanto. Pretende-se com esta crónica, em tempos de extremismo, recomendar bom senso e ponderação, tateando potencialidades e limitações da incorporação e uso de dispositivos e ferramentas digitais especificamente no ensino de História, extrapoláveis a outras disciplinas.

A entrada de ecrãs na sala de aula, desde tablets a smartphones, veio facilitar a pesquisa e consulta imediatas online de milhares de acervos e arquivos, ora colocando à disposição bases de dados, centros e repositórios documentais antes restritos a minorias, ora alargando o leque de fontes, instrumentos e materiais de apoio facilitadores da inteleção de conteúdos programáticos. A análise, em grupo, de novas fontes decerto possibilitará, estimulando, o desenvolvimento de competências transversais tão valorizadas, como o trabalho colaborativo, espírito crítico, problematizante e indagatório.

Da utilização das novas tecnologias nasceram já ou avizinham-se empreendimentos de vulto, como, pensando no 7.º e 10.º anos, a modelagem virtual de percursos e espaços de cidades setentrionais da Lusitânia Romana, a cargo do Centro de Estudos Interdisciplinares da Universidade de Coimbra. Deste projeto resultarão cenários de aprendizagem 3D, envolventes e interpelantes. Um outro – FORCED –, desenvolvido por instituições académicas em parceria com organizações da sociedade civil de quatro países, contempla, além de exposições e mapas, recursos educativos online pensados para estudantes do 9.º e 12.º anos em torno do trabalho forçado durante o nacional-socialismo alemão. Dimensões e realidades outrora dificilmente concebíveis e/ou arredadas do discurso historiográfico – seja a visualização de espaços reduzidos a ruínas ou a deportação de milhões de civis para a Alemanha nazi durante a II Guerra Mundial – tornar-se-ão concretas e tangíveis através de abordagens inovadoras e ferramentas disruptivas, formas leves e lúdicas, rigorosas e didáticas, de lecionação, dotação e transmissão de competências, saberes e valores. Desde visitas virtuais a jogos de simulação, materiais não faltam… talvez equipamentos, tempo e formação específica para os abrir, escolher e explorar, assim como alunos e professores dispostos a fazê-lo.

Claro que o uso excessivo e tendencialmente exclusivo do arsenal hodierno de aparelhos eletrónicos, em desproveito quer da escrita e leitura em papel, quer de atividades extracurriculares livres do frenesim tecnológico, acarreta custos e danos, comprometendo, além do funcionamento cognitivo, emocional e social, o desempenho escolar. Não só estorva a aquisição de competências sensoriomotoras como afeta a concentração e memorização, precipita alterações humorais, estados depressivos, stress e irritabilidade, tornando crianças e adolescentes seres ansiosos, amorfos (por vezes hiperestimulados), dispersos, solitários… Estudos científicos recentes apontam como desvantagens da sobre-exposição a ecrãs transtornos psiquiátricos e/ou comportamentais. Num cenário de hipervalorização dos media interativos, com presença ubíqua no dia a dia de miúdos e graúdos – demonstra-o Michel Desmurget em A Fábrica de Cretinos Digitais –, adensam-se os perigos. Claro que, não havendo controlo e legislação sobre o seu uso em contexto escolar – situação que apenas aumentaria a dependência e o já elevado númerode horas de utilização e consumo recreativos diários de telas –, os ditos riscos adensar-se-iam, passando a escola a compactuar e promover práticas e hábitos nefandos, pelo que a regulação e fixação de intervalos e limites, não tanto a proibição irrestrita, se me afiguram desejáveis: «we as society should no longer run after digitalisation, but take control of the use of new technologies in the classroom ourselves», citando Adriaan van der Weel, Professor Emérito na Universidade de Leiden.

Enfim, tanto a desvalorização como o endeusamento do uso das tecnologias em sala de aula – maniqueísmo em que frequente e preconceituosamente se cai – me parecem insensatos, barrando decisões esclarecidas. Não se trata de pôr no ringue Gutenberg e Jobs, quadros de ardósia e telas. Evitem-se, pois, discursos apologético-sacralizantes ou exclusivistas, visões tecnofílicas ou tecnofóbicas. À comum ideia de substituição, como se o advento do tablet ditasse a morte do papel ou o uso do teclado a falência do velho lápis, deverão sobrepor-se as de complementaridade e concatenação, apostando no uso correto e regrado das tecnologias e no aproveitamento dos seus atestados benefícios.

Do giz ao rato: oportunidades e desafios

A penetração das novas tecnologias em esferas e setores-chave, como a educação, indústria e saúde, tem merecido e motivado reflexões e debates. Discutem-se, hoje, com redobrado afinco e mediatismo, virtualidades e riscos do uso de ferramentas digitais móveis em escolas.

Qualquer medida ou projeto suscita críticas e controvérsias, como as geradas pela proibição do uso de telemóveis em recinto escolar ou pelo projeto-piloto de desmaterialização progressiva de manuais no ensino básico. Enquanto uns repelem o ecrã, outros substituem o papel por tablets.

Perante a irreversibilidade da transição digital, sustê-la é coisa sisífica. Problematizá-la nem tanto. Pretende-se com esta crónica, em tempos de extremismo, recomendar bom senso e ponderação, tateando potencialidades e limitações da incorporação e uso de dispositivos e ferramentas digitais especificamente no ensino de História, extrapoláveis a outras disciplinas.

A entrada de ecrãs na sala de aula, desde tablets a smartphones, veio facilitar a pesquisa e consulta imediatas online de milhares de acervos e arquivos, ora colocando à disposição bases de dados, centros e repositórios documentais antes restritos a minorias, ora alargando o leque de fontes, instrumentos e materiais de apoio facilitadores da inteleção de conteúdos programáticos. A análise, em grupo, de novas fontes decerto possibilitará, estimulando, o desenvolvimento de competências transversais tão valorizadas, como o trabalho colaborativo, espírito crítico, problematizante e indagatório.

Da utilização das novas tecnologias nasceram já ou avizinham-se empreendimentos de vulto, como, pensando no 7.º e 10.º anos, a modelagem virtual de percursos e espaços de cidades setentrionais da Lusitânia Romana, a cargo do Centro de Estudos Interdisciplinares da Universidade de Coimbra. Deste projeto resultarão cenários de aprendizagem 3D, envolventes e interpelantes. Um outro – FORCED –, desenvolvido por instituições académicas em parceria com organizações da sociedade civil de quatro países, contempla, além de exposições e mapas, recursos educativos online pensados para estudantes do 9.º e 12.º anos em torno do trabalho forçado durante o nacional-socialismo alemão. Dimensões e realidades outrora dificilmente concebíveis e/ou arredadas do discurso historiográfico – seja a visualização de espaços reduzidos a ruínas ou a deportação de milhões de civis para a Alemanha nazi durante a II Guerra Mundial – tornar-se-ão concretas e tangíveis através de abordagens inovadoras e ferramentas disruptivas, formas leves e lúdicas, rigorosas e didáticas, de lecionação, dotação e transmissão de competências, saberes e valores. Desde visitas virtuais a jogos de simulação, materiais não faltam… talvez equipamentos, tempo e formação específica para os abrir, escolher e explorar, assim como alunos e professores dispostos a fazê-lo.

Claro que o uso excessivo e tendencialmente exclusivo do arsenal hodierno de aparelhos eletrónicos, em desproveito quer da escrita e leitura em papel, quer de atividades extracurriculares livres do frenesim tecnológico, acarreta custos e danos, comprometendo, além do funcionamento cognitivo, emocional e social, o desempenho escolar. Não só estorva a aquisição de competências sensoriomotoras como afeta a concentração e memorização, precipita alterações humorais, estados depressivos, stress e irritabilidade, tornando crianças e adolescentes seres ansiosos, amorfos (por vezes hiperestimulados), dispersos, solitários… Estudos científicos recentes apontam como desvantagens da sobre-exposição a ecrãs transtornos psiquiátricos e/ou comportamentais. Num cenário de hipervalorização dos media interativos, com presença ubíqua no dia a dia de miúdos e graúdos – demonstra-o Michel Desmurget em A Fábrica de Cretinos Digitais –, adensam-se os perigos. Claro que, não havendo controlo e legislação sobre o seu uso em contexto escolar – situação que apenas aumentaria a dependência e o já elevado númerode horas de utilização e consumo recreativos diários de telas –, os ditos riscos adensar-se-iam, passando a escola a compactuar e promover práticas e hábitos nefandos, pelo que a regulação e fixação de intervalos e limites, não tanto a proibição irrestrita, se me afiguram desejáveis: «we as society should no longer run after digitalisation, but take control of the use of new technologies in the classroom ourselves», citando Adriaan van der Weel, Professor Emérito na Universidade de Leiden.

Enfim, tanto a desvalorização como o endeusamento do uso das tecnologias em sala de aula – maniqueísmo em que frequente e preconceituosamente se cai – me parecem insensatos, barrando decisões esclarecidas. Não se trata de pôr no ringue Gutenberg e Jobs, quadros de ardósia e telas. Evitem-se, pois, discursos apologético-sacralizantes ou exclusivistas, visões tecnofílicas ou tecnofóbicas. À comum ideia de substituição, como se o advento do tablet ditasse a morte do papel ou o uso do teclado a falência do velho lápis, deverão sobrepor-se as de complementaridade e concatenação, apostando no uso correto e regrado das tecnologias e no aproveitamento dos seus atestados benefícios.

Por Hugo Martins

Do giz ao rato: oportunidades e desafios

A penetração das novas tecnologias em esferas e setores-chave, como a educação, indústria e saúde, tem merecido e motivado reflexões e debates. Discutem-se, hoje, com redobrado afinco e mediatismo, virtualidades e riscos do uso de ferramentas digitais móveis em escolas.

Qualquer medida ou projeto suscita críticas e controvérsias, como as geradas pela proibição do uso de telemóveis em recinto escolar ou pelo projeto-piloto de desmaterialização progressiva de manuais no ensino básico. Enquanto uns repelem o ecrã, outros substituem o papel por tablets.

Perante a irreversibilidade da transição digital, sustê-la é coisa sisífica. Problematizá-la nem tanto. Pretende-se com esta crónica, em tempos de extremismo, recomendar bom senso e ponderação, tateando potencialidades e limitações da incorporação e uso de dispositivos e ferramentas digitais especificamente no ensino de História, extrapoláveis a outras disciplinas.

A entrada de ecrãs na sala de aula, desde tablets a smartphones, veio facilitar a pesquisa e consulta imediatas online de milhares de acervos e arquivos, ora colocando à disposição bases de dados, centros e repositórios documentais antes restritos a minorias, ora alargando o leque de fontes, instrumentos e materiais de apoio facilitadores da inteleção de conteúdos programáticos. A análise, em grupo, de novas fontes decerto possibilitará, estimulando, o desenvolvimento de competências transversais tão valorizadas, como o trabalho colaborativo, espírito crítico, problematizante e indagatório.

Da utilização das novas tecnologias nasceram já ou avizinham-se empreendimentos de vulto, como, pensando no 7.º e 10.º anos, a modelagem virtual de percursos e espaços de cidades setentrionais da Lusitânia Romana, a cargo do Centro de Estudos Interdisciplinares da Universidade de Coimbra. Deste projeto resultarão cenários de aprendizagem 3D, envolventes e interpelantes. Um outro – FORCED –, desenvolvido por instituições académicas em parceria com organizações da sociedade civil de quatro países, contempla, além de exposições e mapas, recursos educativos online pensados para estudantes do 9.º e 12.º anos em torno do trabalho forçado durante o nacional-socialismo alemão. Dimensões e realidades outrora dificilmente concebíveis e/ou arredadas do discurso historiográfico – seja a visualização de espaços reduzidos a ruínas ou a deportação de milhões de civis para a Alemanha nazi durante a II Guerra Mundial – tornar-se-ão concretas e tangíveis através de abordagens inovadoras e ferramentas disruptivas, formas leves e lúdicas, rigorosas e didáticas, de lecionação, dotação e transmissão de competências, saberes e valores. Desde visitas virtuais a jogos de simulação, materiais não faltam… talvez equipamentos, tempo e formação específica para os abrir, escolher e explorar, assim como alunos e professores dispostos a fazê-lo.

Claro que o uso excessivo e tendencialmente exclusivo do arsenal hodierno de aparelhos eletrónicos, em desproveito quer da escrita e leitura em papel, quer de atividades extracurriculares livres do frenesim tecnológico, acarreta custos e danos, comprometendo, além do funcionamento cognitivo, emocional e social, o desempenho escolar. Não só estorva a aquisição de competências sensoriomotoras como afeta a concentração e memorização, precipita alterações humorais, estados depressivos, stress e irritabilidade, tornando crianças e adolescentes seres ansiosos, amorfos (por vezes hiperestimulados), dispersos, solitários… Estudos científicos recentes apontam como desvantagens da sobre-exposição a ecrãs transtornos psiquiátricos e/ou comportamentais. Num cenário de hipervalorização dos media interativos, com presença ubíqua no dia a dia de miúdos e graúdos – demonstra-o Michel Desmurget em A Fábrica de Cretinos Digitais –, adensam-se os perigos. Claro que, não havendo controlo e legislação sobre o seu uso em contexto escolar – situação que apenas aumentaria a dependência e o já elevado númerode horas de utilização e consumo recreativos diários de telas –, os ditos riscos adensar-se-iam, passando a escola a compactuar e promover práticas e hábitos nefandos, pelo que a regulação e fixação de intervalos e limites, não tanto a proibição irrestrita, se me afiguram desejáveis: «we as society should no longer run after digitalisation, but take control of the use of new technologies in the classroom ourselves», citando Adriaan van der Weel, Professor Emérito na Universidade de Leiden.

Enfim, tanto a desvalorização como o endeusamento do uso das tecnologias em sala de aula – maniqueísmo em que frequente e preconceituosamente se cai – me parecem insensatos, barrando decisões esclarecidas. Não se trata de pôr no ringue Gutenberg e Jobs, quadros de ardósia e telas. Evitem-se, pois, discursos apologético-sacralizantes ou exclusivistas, visões tecnofílicas ou tecnofóbicas. À comum ideia de substituição, como se o advento do tablet ditasse a morte do papel ou o uso do teclado a falência do velho lápis, deverão sobrepor-se as de complementaridade e concatenação, apostando no uso correto e regrado das tecnologias e no aproveitamento dos seus atestados benefícios.

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