Mário Primo, Manifesto de Arte

Pode haver uma casa, sem haver um lar. Pode haver um lugar com um palco, cortinas, iluminação e todos os demais elementos do campo semântico de um anfiteatro e não acontecer Arte, Teatro. Aqui, neste lugar, foi acontecendo um homem, com quem a palavra Teatro se confunde, se interjeciona. E, por causa dele, muitos, mas mesmo muitos jovens cresceram. Cresceram a sentir de verdade. A ver de verdade, a colocar os seus corpos e as suas vozes ao serviço da Expressão. Da Expressão do Ser… Arte. E que belo Manifesto!

Maioritariamente, não se tornaram atores, mas tornaram-se Pessoas. Pessoas Vivas! Pessoas Sensíveis. Pessoas capazes de trabalharem juntas para um mesmo fim, de se entregarem umas às outras.

Alguns fizeram-se atores, e onde quer que estejam levam a escola consigo, levam o teatro consigo, levam o Mário Primo.

O Mário diria “uma vez um GATO, para sempre um GATO”.

O seu rigor, a sua exigência, o detalhe que imprime no mais milimétrico dos movimentos, na entoação de cada palavra, na força de cada silêncio, na intenção de cada olhar, foi terreno fértil e transformador.

Ainda cresço com ele.

Os sonhos do Mário estavam e estão em cada um de nós.

Os seus sonhos são, também, para toda uma comunidade. Esta. A nossa, que aprendeu a Amar o teatro, a ser um verdadeiro público de Teatro.

A sua visão e ideais sempre o nortearam, ainda que muitas vezes gerando incompreensão, lutas inglórias, sacrifício pessoal e familiar, como bem o testemunha, Carmita, seu pilar.

Não sendo adepto de homenagens, decerto se comoverá com o gesto de hoje, que, em tempo de celebração, de aniversário, perpetua a sua obra.

Talvez até nos convidasse a que nos abraçássemos e juntos cantássemos Sérgio Godinho:

«São dois braços

São dois braços

Servem para dar um abraço

Assim como quatro braços

Servem para dar dois abraços.»

Espero ter dado voz, aqui, hoje, a tantos quantos fazem parte desse abraço.

Sei que o meu olhar o mundo e o sentir feito escrita, teve aqui berço, pela mão do Mário Primo.

«São dois braços

São dois braços

Servem para dar um abraço

Assim como quatro braços

Servem para dar dois abraços.»

 Ana Zorrinho

28 de novembro de 2023

[manifesto proferido aquando da atribuição do patrono ao auditório da ESPAM, num momento marcado pela comoção e euforia do público, que não contou com a presença do professor Mário Primo, o homenageado, pelo facto de o mesmo se encontrar por terras açorianas a fazer Arte.]
Jornal 848 FEv 2024

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